quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Como a hereditariedade influencia a formação da personalidade

Em primeiro lugar é preciso deixar bem claro que a hereditariedade não se constitui em causa direta do comportamento. Sua influência se dá de forma indireta, através das estruturas orgânicas pelas quais respondemos aos estímulos.
            Para se compreender melhor a influência da hereditariedade, é útil distinguir entre hereditariedade da espécie e hereditariedade individual.

            A hereditariedade da espécie caracteriza todos os membros de uma mesma espécie. Certas possibilidades e limitações do comportamento já são estabelecidas aqui pelas diferentes estruturas orgânicas herdadas. As estruturas orgânicas diferentes é que possibilitam ao pássaro voar e ao homem falar e não possibilitam o vice-versa. Enfatiza-se a expressão “possibilidade”, já que a presença de determinada estrutura é condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento de determinado comportamento. O fato de possuirmos uma estrutura que nos permite falar línguas estrangeiras não garante que necessariamente as falaremos. As estruturas são herdadas, mas o comportamento não.
            A maturação é o processo fisiológico pelo qual a hereditariedade atua durante toda a vida, determinando mudanças na estrutura do corpo, no funcionamento das glândulas e do sistema nervoso. Em conseqüência, também ocorrerão mudanças no comportamento. Assim, é também responsabilidade da hereditariedade da espécie que espécies diferentes tenham diferentes ritmos de maturação.
            O conhecido estudo de Kellogg, da Universidade de Indiana, apontou este fenômeno. Esses estudiosos trouxeram para casa um filhote de chipanzé, e o trataram em tudo como a seu próprio filho. As mesmas condições de estimulação e aprendizagem foram garantidas. O chipanzé, devido ao seu ritmo de maturação, aprendeu a subir uma escada e a descê-la, abrir uma porta, operar um interruptor de luz, beber em um copo, comer com a colher e controlar os esfíncteres, tudo isto bem antes da criança. No entanto, aos poucos a criança passou a superar o animal.
            A hereditariedade da espécie determina, ainda, que espécies diferentes tenham diferentes comportamentos instintivos ou não aprendidos.

            A hereditariedade individual é a que, excetuando-se a influência do ambiente, faz um indivíduo ser diferente de outro da mesma espécie. Os indivíduos, já por ocasião do nascimento, diferem acentuadamente quanto ao nível de atividade. Isto por sua vez, acarretará diferenças acentuadas na maior ou menor percepção de estímulos e conseqüente aprendizagem. Desde o nascimento, umas crianças reagem prontamente às variações de luz, som, temperatura, e outras permanecem quase insensíveis.
            Provavelmente, os fatores hereditários desempenham papel mais preponderante na determinação dos padrões de comportamento dos animais do que dos seres humanos. Mesmo assim nossas diferenças fisiológicas, determinadas geneticamente, desempenham papel decisivo na formação de nossa personalidade.
            Apesar de não existir uma relação causal direta entre estruturas hereditárias e auto-estima, agressividade, sociabilidade e outras características de personalidade, nós nos comportamos por meio de nosso corpo e a estrutura e funcionamento do organismo são influenciado pela hereditariedade.
            A nossa aparência física influencia muito na maneira pela qual seremos tratados pelos outros e a partir das relações interpessoais se estabelecem muitas características pessoais, como o auto-conceito e outras.
            São aceitos os princípios segundo os quais incapacidades corporais e deformidades físicas influenciam a personalidade. Elas determinam não só um auto-conceito negativo, mas também desencadeiam mecanismos compensatórios. Adler defendeu com vigor esta tese.
            De um modo geral, as pesquisas indicam que pessoas portadoras de defeitos físicos ou muito diferentes fisicamente, da maioria das pessoas na sua cultura, apresentam um índice maior de retraimento social, infelicidade e comportamentos defensivos. Esses indivíduos são, em geral, desestimados pela sociedade e tem grande propensão para aceitar esse julgamento desfavorável, o que os conduz inevitavelmente a um conceito negativo de si mesmos. Interiorizado o conceito negativo, passam a agir de acordo com ele. O nível de ansiedade também costuma ser maior nessas pessoas. Sob o domínio da ansiedade, sentem maiores dificuldades e enfrentam menos adequadamente o meio.
            Outra descoberta que atesta a influência da hereditariedade individual sobre a personalidade é que inúmeras desordens de comportamento pressupõem certas predisposições orgânicas herdadas. Estados depressivos, por exemplo, podem ser causados por insuficiência de insulina.
            Para concluir, ressalta-se a idéia de que a hereditariedade não é causa direta do comportamento, mas através das estruturas orgânicas, estabelece limites para as manifestações comportamentais.

            Parece ser útil a divisão do conceito de ambiente em ambiente físico e social. O primeiro se refere às influências da nutrição, temperatura, altitude; o segundo às influências das relações interpessoais.
            Pode-se, portanto, incluir sob o rótulo “ambiente”, um número enorme de fatores que influem na formação da personalidade. Entre eles estão: a situação pré-natal, as primeiras experiências infantis, a constelação familiar, as relações entre pais e filhos, as variadas influências culturais e institucionais e muitos outros.
            Já são amplamente conhecidos os resultados de alterações no ambiente pré-natal. Dieta inadequada, ingestão de drogas e tratamento de raio X durante a gravidez podem alterar profundamente a personalidade do futuro bebê. Emoções fortes e prolongadas, neste período, podem fazer o mesmo. Isto se deve, provavelmente, às alterações hormonais que passam através da placenta para o feto, tornando-o excessivamente ativo. Depois do nascimento, esta criança pode continuar a sofrer os efeitos destas alterações, sendo hiperativa e irritável.
            A nutrição é um fator dos mais importantes no desenvolvimento da personalidade em muitos, senão em todos os aspectos, como, inteligência, constituição física, coordenação motora, atenção, memória, etc., sem se falar nas características derivadas destas, como é o caso do auto-conceito.
            As primeiras experiências na vida de uma pessoa são as mais importantes. Freud e a maioria dos estudiosos acreditavam que a estrutura da personalidade é fixada nos primeiros anos de vida; o que ocorre ou deixa de ocorrer nesse período é decisivo.
            Tem-se pesquisado bastante, recentemente, sobre os efeitos das privações de estimulação nos primeiros momentos da vida. Vários estudos envolvendo crianças criadas em orfanatos, comparadas com crianças criadas em ambientes familiares, apontam, naquelas, uma série de problemas como saúde fraca, declínio intelectual progressivo e desajuste social e emocional.
            As privações sensoriais iniciais têm uma influência marcante no desenvolvimento da criança, que não é facilmente superada mesmo que depois se lhes ofereça um meio estimulante. Os estudos efetuados com as chamadas “crianças selvagens” ilustram bem este ponto. Com animais, muitas são as pesquisas sobre privação sensorial ou qualquer condições especiais do ambiente no início da vida.
            Harlow e Zimmermann estudaram macacos criados por mães verdadeiras e mães substitutas feitas de pano e arame. Em situações de emergência, os filhotes recorriam a mãe substituta de pano, independentemente de qual delas havia amamentado o animal. Ficou claro que o contato macio e aconchegante representa uma estimulação importante. Mesmo os filhotes criados com a mãe de pano, comparados aos criados com a mãe verdadeira, apresenta, na vida adulta, comportamentos peculiares e anormais. São mais agressivos e anti-sociais, apresentam desenvolvimento psicomotor deficiente e tem grande dificuldade de manter relações sexuais normais.
            Freud foi um dos primeiros estudiosos a chamar a atenção para as experiências traumatizantes, principalmente na primeira infância. Atribuiu grande importância a certas atividades como a de alimentar a criança, o treinamento para o controle dos esfíncteres, educação sexual e o controle da agressividade.
            Alfred Adler procurou na constelação familiar uma explicação para a personalidade. Cada membro da família tem uma posição diferente que é determinada pelo sexo e pela ordem de nascimento. Essa posição no contexto familiar gera certas características peculiares.
            Rosenthal estudou a relação existente entre expectativas dos pais e o nível de aspiração e desempenho dos filhos.

            Além das primeiras experiências e do meio familiar, a sociedade exerce poderosa influência sobre a personalidade, particularmente no período da adolescência, quando os grupos de amigos, a escola e a cultura tornam-se poderosos agentes determinantes da personalidade.

Até a próxima... 

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