Em primeiro lugar é preciso
deixar bem claro que a hereditariedade não se constitui em causa direta do
comportamento. Sua influência se dá de forma indireta, através das estruturas
orgânicas pelas quais respondemos aos estímulos.
Para
se compreender melhor a influência da hereditariedade, é útil distinguir entre
hereditariedade da espécie e hereditariedade individual.
A
hereditariedade da espécie caracteriza todos os membros de uma mesma
espécie. Certas possibilidades e limitações do comportamento já são
estabelecidas aqui pelas diferentes estruturas orgânicas herdadas. As
estruturas orgânicas diferentes é que possibilitam ao pássaro voar e ao homem
falar e não possibilitam o vice-versa. Enfatiza-se a expressão “possibilidade”,
já que a presença de determinada estrutura é condição necessária, mas não
suficiente para o desenvolvimento de determinado comportamento. O fato de
possuirmos uma estrutura que nos permite falar línguas estrangeiras não garante
que necessariamente as falaremos. As estruturas são herdadas, mas o
comportamento não.
A
maturação é o processo fisiológico pelo qual a hereditariedade atua durante
toda a vida, determinando mudanças na estrutura do corpo, no funcionamento das
glândulas e do sistema nervoso. Em conseqüência, também ocorrerão mudanças no
comportamento. Assim, é também responsabilidade da hereditariedade da espécie
que espécies diferentes tenham diferentes ritmos de maturação.
O
conhecido estudo de Kellogg, da Universidade de Indiana, apontou este fenômeno.
Esses estudiosos trouxeram para casa um filhote de chipanzé, e o trataram em
tudo como a seu próprio filho. As mesmas condições de estimulação e
aprendizagem foram garantidas. O chipanzé, devido ao seu ritmo de maturação,
aprendeu a subir uma escada e a descê-la, abrir uma porta, operar um
interruptor de luz, beber em um copo, comer com a colher e controlar os
esfíncteres, tudo isto bem antes da criança. No entanto, aos poucos a criança
passou a superar o animal.
A
hereditariedade da espécie determina, ainda, que espécies diferentes tenham
diferentes comportamentos instintivos ou não aprendidos.
A
hereditariedade individual é a que, excetuando-se a influência do ambiente,
faz um indivíduo ser diferente de outro da mesma espécie. Os indivíduos, já por
ocasião do nascimento, diferem acentuadamente quanto ao nível de atividade.
Isto por sua vez, acarretará diferenças acentuadas na maior ou menor percepção
de estímulos e conseqüente aprendizagem. Desde o nascimento, umas crianças
reagem prontamente às variações de luz, som, temperatura, e outras permanecem
quase insensíveis.
Provavelmente,
os fatores hereditários desempenham papel mais preponderante na determinação dos
padrões de comportamento dos animais do que dos seres humanos. Mesmo assim
nossas diferenças fisiológicas, determinadas geneticamente, desempenham papel
decisivo na formação de nossa personalidade.
Apesar
de não existir uma relação causal direta entre estruturas hereditárias e
auto-estima, agressividade, sociabilidade e outras características de
personalidade, nós nos comportamos por meio de nosso corpo e a estrutura e
funcionamento do organismo são influenciado pela hereditariedade.
A
nossa aparência física influencia muito na maneira pela qual seremos tratados
pelos outros e a partir das relações interpessoais se estabelecem muitas
características pessoais, como o auto-conceito e outras.
São
aceitos os princípios segundo os quais incapacidades corporais e deformidades
físicas influenciam a personalidade. Elas determinam não só um auto-conceito
negativo, mas também desencadeiam mecanismos compensatórios. Adler defendeu com
vigor esta tese.
De
um modo geral, as pesquisas indicam que pessoas portadoras de defeitos físicos
ou muito diferentes fisicamente, da maioria das pessoas na sua cultura,
apresentam um índice maior de retraimento social, infelicidade e comportamentos
defensivos. Esses indivíduos são, em geral, desestimados pela sociedade e tem
grande propensão para aceitar esse julgamento desfavorável, o que os conduz
inevitavelmente a um conceito negativo de si mesmos. Interiorizado o conceito
negativo, passam a agir de acordo com ele. O nível de ansiedade também costuma
ser maior nessas pessoas. Sob o domínio da ansiedade, sentem maiores
dificuldades e enfrentam menos adequadamente o meio.
Outra
descoberta que atesta a influência da hereditariedade individual sobre a
personalidade é que inúmeras desordens de comportamento pressupõem certas
predisposições orgânicas herdadas. Estados depressivos, por exemplo, podem ser
causados por insuficiência de insulina.
Para
concluir, ressalta-se a idéia de que a hereditariedade não é causa direta do
comportamento, mas através das estruturas orgânicas, estabelece limites para as
manifestações comportamentais.
Parece
ser útil a divisão do conceito de ambiente em ambiente físico e social. O
primeiro se refere às influências da nutrição, temperatura, altitude; o segundo
às influências das relações interpessoais.
Pode-se,
portanto, incluir sob o rótulo “ambiente”, um número enorme de fatores que
influem na formação da personalidade. Entre eles estão: a situação pré-natal,
as primeiras experiências infantis, a constelação familiar, as relações entre
pais e filhos, as variadas influências culturais e institucionais e muitos
outros.
Já
são amplamente conhecidos os resultados de alterações no ambiente pré-natal.
Dieta inadequada, ingestão de drogas e tratamento de raio X durante a gravidez
podem alterar profundamente a personalidade do futuro bebê. Emoções fortes e
prolongadas, neste período, podem fazer o mesmo. Isto se deve, provavelmente,
às alterações hormonais que passam através da placenta para o feto, tornando-o
excessivamente ativo. Depois do nascimento, esta criança pode continuar a
sofrer os efeitos destas alterações, sendo hiperativa e irritável.
A
nutrição é um fator dos mais importantes no desenvolvimento da personalidade em
muitos, senão em todos os aspectos, como, inteligência, constituição física,
coordenação motora, atenção, memória, etc., sem se falar nas características
derivadas destas, como é o caso do auto-conceito.
As
primeiras experiências na vida de uma pessoa são as mais importantes. Freud e a
maioria dos estudiosos acreditavam que a estrutura da personalidade é fixada
nos primeiros anos de vida; o que ocorre ou deixa de ocorrer nesse período é
decisivo.
Tem-se
pesquisado bastante, recentemente, sobre os efeitos das privações de
estimulação nos primeiros momentos da vida. Vários estudos envolvendo crianças
criadas em orfanatos, comparadas com crianças criadas em ambientes familiares,
apontam, naquelas, uma série de problemas como saúde fraca, declínio
intelectual progressivo e desajuste social e emocional.
As
privações sensoriais iniciais têm uma influência marcante no desenvolvimento da
criança, que não é facilmente superada mesmo que depois se lhes ofereça um meio
estimulante. Os estudos efetuados com as chamadas “crianças selvagens” ilustram
bem este ponto. Com animais, muitas são as pesquisas sobre privação sensorial
ou qualquer condições especiais do ambiente no início da vida.
Harlow
e Zimmermann estudaram macacos criados por mães verdadeiras e mães substitutas
feitas de pano e arame. Em situações de emergência, os filhotes recorriam a mãe
substituta de pano, independentemente de qual delas havia amamentado o animal.
Ficou claro que o contato macio e aconchegante representa uma estimulação
importante. Mesmo os filhotes criados com a mãe de pano, comparados aos criados
com a mãe verdadeira, apresenta, na vida adulta, comportamentos peculiares e
anormais. São mais agressivos e anti-sociais, apresentam desenvolvimento
psicomotor deficiente e tem grande dificuldade de manter relações sexuais
normais.
Freud
foi um dos primeiros estudiosos a chamar a atenção para as experiências
traumatizantes, principalmente na primeira infância. Atribuiu grande
importância a certas atividades como a de alimentar a criança, o treinamento
para o controle dos esfíncteres, educação sexual e o controle da agressividade.
Alfred
Adler procurou na constelação familiar uma explicação para a personalidade.
Cada membro da família tem uma posição diferente que é determinada pelo sexo e
pela ordem de nascimento. Essa posição no contexto familiar gera certas
características peculiares.
Rosenthal
estudou a relação existente entre expectativas dos pais e o nível de aspiração
e desempenho dos filhos.
Além
das primeiras experiências e do meio familiar, a sociedade exerce poderosa
influência sobre a personalidade, particularmente no período da adolescência,
quando os grupos de amigos, a escola e a cultura tornam-se poderosos agentes
determinantes da personalidade.
Até a próxima...
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