Grupo Social
Um
conjunto de pessoas num determinado local, por exemplo, no ponto de ônibus, não
caracteriza um grupo.
O
Grupo social supõe um conjunto de duas ou mais pessoas num processo de relação
mútua e organizado com a finalidade de atingir um objetivo imediato ou mais a
longo prazo. O objetivo imediato pode ser, por exemplo, fazer um trabalho
escolar e, mais a longo prazo, conseguir um jornal mural para a sala de aula.
(D.A. e D.C.E.).
A
consecução do objetivo impõe tarefas, regras que regulem as relações entre as
pessoas (normas), um processo de comunicação entre todos os participantes do
grupo e o próprio desenvolvimento do grupo em direção ao seu objetivo.
O processo grupal implica uma rede de
relações que pode caracterizar-se por relações equilibradas de poder entre os
participantes ou pela presença de uma figura ou subgrupo que detém o poder e
determina as obrigações e normas que
regulam a vida grupal. As relações de poder do grupo determinam ou influenciam
o grau de participação dos membros nas decisões grupais, o processo de
comunicação interno, o sistema de normas e punição e suas aplicações.
Todo
grupo tem uma história e, através dela, podemos verificar as mudanças que nele
ocorrem. Por exemplo, as normas podem alterar-se no sentido de criação de novas
ou revisão das antigas. O sistema de punição aos transgressores das normas pode
tornar-se mais ou menos rígido, dependendo do grau de controle que o grupo quer
manter sobre o comportamento de seus membros. O sentimento de solidariedade
pode estabelecer-se como um importante fator de manutenção do grupo, e podem
emergir conflitos em relação a valores (estudar ou não estudar), à normas (quem
não cumpre uma tarefa deve ser expulso do grupo) e a outros aspectos da vida
grupal. Esses conflitos originam-se do confronto permanente entre a diversidade
de pontos de vista presentes no grupo. O conflito não leva, necessariamente, à
dissolução do grupo e pode caracterizar-se como um momento de seu crescimento.
A
diversidade presente no grupo fica evidente, se pensarmos que um dos
componentes do grupo da escola também participa de inúmeros outros grupos – do
clube, do trabalho, da família. O mesmo ocorre com cada um dos demais
participantes, que trazem para este grupo as vivências e experiências dos
demais grupos ao longo de sua história de vida. Ao mesmo tempo, o grupo precisa
processar as exigências e os controles externos exercidos sobre ele. Isto
porque nenhum grupo está solto no ar, mas ligado a instituições, organizações
da sociedade que lhe podem atribuir autonomia maior ou menor. Ou então, essa
autonomia pode ser conquistada pelo grupo.
Considerar
o processo de desenvolvimento grupal significa considerar, também, que o grupo
pode proporcionar a seus participantes condições de desenvolvimento e
crescimento pessoal. Ninguém sai de um grupo igual a quando entrou nele.
Participar de um grupo significa partilhar pontos de vista, representações,
crenças, informações, emoções, desenvolver habilidades, aprender a desempenhar
papéis de estudante, de filho, de profissional, etc.
Esse
partilhar contínuo torna cada membro do grupo agente e sujeito de um processo
de determinações, de troca de significados. Um componente traz para o grupo o
que ele é - o modo como pensa, sente e age -, e isto pode afetar o grupo, bem
como o grupo pode mudar aspectos seus que não aceita. Vamos imaginar que esse
componente do grupo tenha preconceito contra homossexuais. Ele pode ser levado
a mudar essa atitude, porque os preconceitos não são valorizados neste grupo,
cujos participantes têm uma história de pertencer a grupos democráticos. O
preconceito dessa pessoa também é produto de sua história e, portanto, do seu processo
de socialização.
O Processo de Socialização é o processo
de internalização (apropriação) do mundo social, com suas normas, valores, modo
de representar os objetos e situações que compõem a realidade objetiva; é o
processo de constituição de uma realidade subjetiva, que se forma a partir das
primeiras relações do indivíduo com o meio social.
O
bebê, por exemplo, a partir do momento em que nasce, começa a sujeitar-se a
horários, hábitos alimentares; posteriormente ocorre o treino de higiene, o
aprender a andar, a aprendizagem da língua e assim por diante. O que o indivíduo aprende e como aprende caracterizam a
peculiaridade de cada grupo, classe social, cultura. Neste sentido, a
socialização está relacionada às condições objetiva de vida do indivíduo.
Sabemos
que a alimentação, as condições de moradia e de saúde variam de acordo com a
classe social da criança, e ela sofrerá, ainda no útero materno, as
conseqüências das condições objetivas de vida da mãe. Desta forma, podemos ir
mais longe e afirmar que a socialização se inicia antes mesmo do próprio
nascimento. Posteriormente, as diferenças permanecerão no sentido de uma
infância mais, ou menos, protegida, isto é, dependendo de sua origem social, o
jovem poderá, por exemplo, só estudar, estudar e trabalhar ou só trabalhar.
A
socialização pode ser dividida em Socialização primaria e Socialização
secundária.
a) Socialização primária - consistem em grupos pequenos com
relações íntimas; famílias, por exemplo. Podem ser caracterizados por contatos
diretos ou indiretos, como corresponder-se com um irmão noutro país via e-mail.
Eles geralmente mantêm-se durante anos.
Outro
aspecto importante a ser considerado é que a inserção de uma família em uma
classe social de uma sociedade determinada faz com que o mundo e seus
acontecimentos sejam “filtrados” para a criança. Os fatos e coisas do mundo já
chegam com significação para ela. Por exemplo, uma família que mora em uma
favela pode passar para o filho seus sentimentos e opiniões a respeito da
discriminação social em que vive, em função de sua condição de moradia, de
pobreza. Isto será internalizado pela criança.
Essa
internalização, no caso, tem grandes probabilidades de ocorrer porque a
situação está se dando no grupo familiar, um grupo altamente significativo para
a criança. A família ou seu substituto – creche, orfanato – constitui o grupo
de socialização primária.
A
maioria das teorias psicológicas concordam com a importância desse primeiro
grupo na formação do indivíduo. Estas mesmas teorias enfatizam diferentemente a
família como instituição reprodutora das relações sociais mais amplas, seus
aspectos de manutenção de valores e leis sociais e, portanto, sua socialização
para a docilidade e para o conformismo social.
A
importância, impossível de ser negada, atribuída a este grupo ou seu substituto sustenta-se, também,
nas características próprias da criança pequena, em seus aspectos de
dependência física e psíquica. Nos seus primeiros anos de vida, a criança
depende do adulto para sua sobrevivência. Se ela não for alimentada, limpa,
cuidada e amada, ela não sobreviverá.
Essa
dependência torna os adultos, que suprem as necessidades da criança e asseguram
sua vida, pessoas muito importantes. Porém essa dependência não deve ser entendida
como a criança sendo exclusivamente sujeito passivo no processo de
socialização. Ela também interfere no seu meio familiar, muda os hábitos da
família, “ensina” a mãe a ser mãe.
O
período de dependência poderá ser uma fase mais curta ou mais longa da vida do
indivíduo. Isto variará, com certeza, em função das condições objetivas da vida
da família, da cultura. Na zona rural, as crianças vão muito cedo ajudar no
plantio e o mesmo ocorre nas populações de mais baixa renda, nos grandes
centros urbanos industriais, onde a necessidade de trabalho para uma criança de
sete anos impõe-se como garantia de sua sobrevivência. A mãe que trabalha numa
fábrica e deixa a filha de oito anos cuidando do bebê estabelece para essa
criança um nível de exigência diferente do da criança de oitos anos que nunca
atravessou a rua sozinha ou fez uma compra na padaria da esquina. Em cada um
desses casos, a dependência da criança em relação ao adulto é reforçada
diferentemente pelo próprio adulto.
Neste
momento inicial da vida do indivíduo, existe um importante instrumento de
socialização, que é a linguagem. A
aquisição da linguagem é, ao mesmo tempo, produto da socialização anterior e
facilitador da continuidade desse processo. Com a linguagem, intensifica-se a
possibilidade de troca de experiência com o outro – adulto ou criança; a
criança amplia seu domínio sobre o mundo e seus símbolos e aumenta sua
capacidade de interferir nele, pois agora possui um código comum.
b) Socialização secundária - Ocorre em todos os outros grupos
sociais do indivíduo, ao longo de sua vida. Essa socialização irá ocorrer na
escola, no grupo de amigos (que, na adolescência, assume a importância como
grupo de referência para o comportamento, hábitos, valores do jovem e o
sustenta no seu enfrentamento com o adulto) e, mais tarde, no grupo de trabalho
e noutros grupos de vivência e participação.
Sempre
vivemos em grupos sociais e, portanto, o processo de socialização é contínuo e
não termina na idade adulta, na maturidade ou com a aposentadoria. Os conteúdos
deste processo vão se diversificando, tornando-se cada vez mais complexos; as
exigências do grupo quanto ao desempenho de seus membros vão se diferenciando,
e o indivíduo vai adquirindo, cada vez mais, o poder de interferir no processo
de construção de sua própria subjetividade e na construção do cenário social,
contribuindo para sua manutenção ou transformação.
Nesse
processo ininterrupto de socialização, onde o indivíduo produz o mundo e a si
próprio, ocorre a formação da identidade.
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