quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Grupos, Organizações e Instituições

Grupo Social

            Um conjunto de pessoas num determinado local, por exemplo, no ponto de ônibus, não caracteriza um grupo.

            O Grupo social supõe um conjunto de duas ou mais pessoas num processo de relação mútua e organizado com a finalidade de atingir um objetivo imediato ou mais a longo prazo. O objetivo imediato pode ser, por exemplo, fazer um trabalho escolar e, mais a longo prazo, conseguir um jornal mural para a sala de aula. (D.A. e D.C.E.).
            A consecução do objetivo impõe tarefas, regras que regulem as relações entre as pessoas (normas), um processo de comunicação entre todos os participantes do grupo e o próprio desenvolvimento do grupo em direção ao seu objetivo.
           
            O processo grupal implica uma rede de relações que pode caracterizar-se por relações equilibradas de poder entre os participantes ou pela presença de uma figura ou subgrupo que detém o poder e determina as obrigações e normas que regulam a vida grupal. As relações de poder do grupo determinam ou influenciam o grau de participação dos membros nas decisões grupais, o processo de comunicação interno, o sistema de normas e punição e suas aplicações.
           
            Todo grupo tem uma história e, através dela, podemos verificar as mudanças que nele ocorrem. Por exemplo, as normas podem alterar-se no sentido de criação de novas ou revisão das antigas. O sistema de punição aos transgressores das normas pode tornar-se mais ou menos rígido, dependendo do grau de controle que o grupo quer manter sobre o comportamento de seus membros. O sentimento de solidariedade pode estabelecer-se como um importante fator de manutenção do grupo, e podem emergir conflitos em relação a valores (estudar ou não estudar), à normas (quem não cumpre uma tarefa deve ser expulso do grupo) e a outros aspectos da vida grupal. Esses conflitos originam-se do confronto permanente entre a diversidade de pontos de vista presentes no grupo. O conflito não leva, necessariamente, à dissolução do grupo e pode caracterizar-se como um momento de seu crescimento.

            A diversidade presente no grupo fica evidente, se pensarmos que um dos componentes do grupo da escola também participa de inúmeros outros grupos – do clube, do trabalho, da família. O mesmo ocorre com cada um dos demais participantes, que trazem para este grupo as vivências e experiências dos demais grupos ao longo de sua história de vida. Ao mesmo tempo, o grupo precisa processar as exigências e os controles externos exercidos sobre ele. Isto porque nenhum grupo está solto no ar, mas ligado a instituições, organizações da sociedade que lhe podem atribuir autonomia maior ou menor. Ou então, essa autonomia pode ser conquistada pelo grupo.

            Considerar o processo de desenvolvimento grupal significa considerar, também, que o grupo pode proporcionar a seus participantes condições de desenvolvimento e crescimento pessoal. Ninguém sai de um grupo igual a quando entrou nele. Participar de um grupo significa partilhar pontos de vista, representações, crenças, informações, emoções, desenvolver habilidades, aprender a desempenhar papéis de estudante, de filho, de profissional, etc.

            Esse partilhar contínuo torna cada membro do grupo agente e sujeito de um processo de determinações, de troca de significados. Um componente traz para o grupo o que ele é - o modo como pensa, sente e age -, e isto pode afetar o grupo, bem como o grupo pode mudar aspectos seus que não aceita. Vamos imaginar que esse componente do grupo tenha preconceito contra homossexuais. Ele pode ser levado a mudar essa atitude, porque os preconceitos não são valorizados neste grupo, cujos participantes têm uma história de pertencer a grupos democráticos. O preconceito dessa pessoa também é produto de sua história e, portanto, do seu processo de socialização.
           
            O Processo de Socialização é o processo de internalização (apropriação) do mundo social, com suas normas, valores, modo de representar os objetos e situações que compõem a realidade objetiva; é o processo de constituição de uma realidade subjetiva, que se forma a partir das primeiras relações do indivíduo com o meio social.

            O bebê, por exemplo, a partir do momento em que nasce, começa a sujeitar-se a horários, hábitos alimentares; posteriormente ocorre o treino de higiene, o aprender a andar, a aprendizagem da língua e assim por diante. O que o indivíduo aprende e como aprende caracterizam a peculiaridade de cada grupo, classe social, cultura. Neste sentido, a socialização está relacionada às condições objetiva de vida do indivíduo.

            Sabemos que a alimentação, as condições de moradia e de saúde variam de acordo com a classe social da criança, e ela sofrerá, ainda no útero materno, as conseqüências das condições objetivas de vida da mãe. Desta forma, podemos ir mais longe e afirmar que a socialização se inicia antes mesmo do próprio nascimento. Posteriormente, as diferenças permanecerão no sentido de uma infância mais, ou menos, protegida, isto é, dependendo de sua origem social, o jovem poderá, por exemplo, só estudar, estudar e trabalhar ou só trabalhar.

            A socialização pode ser dividida em Socialização primaria e Socialização secundária.

a) Socialização primária - consistem em grupos pequenos com relações íntimas; famílias, por exemplo. Podem ser caracterizados por contatos diretos ou indiretos, como corresponder-se com um irmão noutro país via e-mail. Eles geralmente mantêm-se durante anos.

            Outro aspecto importante a ser considerado é que a inserção de uma família em uma classe social de uma sociedade determinada faz com que o mundo e seus acontecimentos sejam “filtrados” para a criança. Os fatos e coisas do mundo já chegam com significação para ela. Por exemplo, uma família que mora em uma favela pode passar para o filho seus sentimentos e opiniões a respeito da discriminação social em que vive, em função de sua condição de moradia, de pobreza. Isto será internalizado pela criança.

            Essa internalização, no caso, tem grandes probabilidades de ocorrer porque a situação está se dando no grupo familiar, um grupo altamente significativo para a criança. A família ou seu substituto – creche, orfanato – constitui o grupo de socialização primária.

            A maioria das teorias psicológicas concordam com a importância desse primeiro grupo na formação do indivíduo. Estas mesmas teorias enfatizam diferentemente a família como instituição reprodutora das relações sociais mais amplas, seus aspectos de manutenção de valores e leis sociais e, portanto, sua socialização para a docilidade e para o conformismo social.

            A importância, impossível de ser negada, atribuída a este  grupo ou seu substituto sustenta-se, também, nas características próprias da criança pequena, em seus aspectos de dependência física e psíquica. Nos seus primeiros anos de vida, a criança depende do adulto para sua sobrevivência. Se ela não for alimentada, limpa, cuidada e amada, ela não sobreviverá.

            Essa dependência torna os adultos, que suprem as necessidades da criança e asseguram sua vida, pessoas muito importantes. Porém essa dependência não deve ser entendida como a criança sendo exclusivamente sujeito passivo no processo de socialização. Ela também interfere no seu meio familiar, muda os hábitos da família, “ensina” a mãe a ser mãe.

            O período de dependência poderá ser uma fase mais curta ou mais longa da vida do indivíduo. Isto variará, com certeza, em função das condições objetivas da vida da família, da cultura. Na zona rural, as crianças vão muito cedo ajudar no plantio e o mesmo ocorre nas populações de mais baixa renda, nos grandes centros urbanos industriais, onde a necessidade de trabalho para uma criança de sete anos impõe-se como garantia de sua sobrevivência. A mãe que trabalha numa fábrica e deixa a filha de oito anos cuidando do bebê estabelece para essa criança um nível de exigência diferente do da criança de oitos anos que nunca atravessou a rua sozinha ou fez uma compra na padaria da esquina. Em cada um desses casos, a dependência da criança em relação ao adulto é reforçada diferentemente pelo próprio adulto.

            Neste momento inicial da vida do indivíduo, existe um importante instrumento de socialização, que é a linguagem. A aquisição da linguagem é, ao mesmo tempo, produto da socialização anterior e facilitador da continuidade desse processo. Com a linguagem, intensifica-se a possibilidade de troca de experiência com o outro – adulto ou criança; a criança amplia seu domínio sobre o mundo e seus símbolos e aumenta sua capacidade de interferir nele, pois agora possui um código comum.

b) Socialização secundária - Ocorre em todos os outros grupos sociais do indivíduo, ao longo de sua vida. Essa socialização irá ocorrer na escola, no grupo de amigos (que, na adolescência, assume a importância como grupo de referência para o comportamento, hábitos, valores do jovem e o sustenta no seu enfrentamento com o adulto) e, mais tarde, no grupo de trabalho e noutros grupos de vivência e participação.

            Sempre vivemos em grupos sociais e, portanto, o processo de socialização é contínuo e não termina na idade adulta, na maturidade ou com a aposentadoria. Os conteúdos deste processo vão se diversificando, tornando-se cada vez mais complexos; as exigências do grupo quanto ao desempenho de seus membros vão se diferenciando, e o indivíduo vai adquirindo, cada vez mais, o poder de interferir no processo de construção de sua própria subjetividade e na construção do cenário social, contribuindo para sua manutenção ou transformação.

            Nesse processo ininterrupto de socialização, onde o indivíduo produz o mundo e a si próprio, ocorre a formação da identidade.

Até a próxima..

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